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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Honrando os Antepassados



Tradução do original “Honoring One’s Ancestors” de Mark Ludwig Stinson/Temple of our Heathen Gods

http://www.facebook.com/notes/temple-of-our-heathen-gods/honoring-ones-ancestors/10150123023948956

Por Sharon Lee Loreilhe

Uma grande parte da prática pagã envolve honrar os nossos antepassados. Enquanto vivos, nossos antepassados foram pessoas com aspirações, com esperanças e sonhos, famílias e amigos que amaram, tiveram sucessos e dificuldades, e se não fosse por seu trabalho duro, dedicação e sacrifícios, não estaríamos aqui. Uma parte da nossa alma pagã, nosso Orlog, é passado para nós por nossos antepassados. Nós trabalhamos duro durante toda a nossa vida para passar Orlog bom para os nossos próprios filhos, assim como aos nossos descendentes. Nós dividimos sangue e cultura com nossos ancestrais, e é através de nossos antepassados que encontramos a nossa ligação com nossos Deuses.

Na morte, nós, como pagãos temos idéias diferentes sobre onde eles possam estar. Talvez uma parte de sua alma pagã esteja no Salão dos Nossos Antepassados em Hel ou talvez descansando no túmulo. Existem outros conceitos de vida após a morte entre os pagãos modernos, mas estes são provavelmente os mais comuns. Independentemente de onde estejam, há uma crença de que nossos antepassados estão conscientes de nós e cuidam de nós por toda a nossa vida. De que esses nossos Alfar e Dísir são capazes de conferir conselhos e um pouco de sorte necessária para um descendente de merecimento. Que nossos ancestrais se interessam por nós e podem olhar por nós durante um momento difícil. Não obstante, devemos a nossos antepassados nossas vidas, e eles merecem ser homenageados e lembrados.

Encorajando Novos Pagãos

Muitos recém-chegados ao Ásatrú ou Paganismo primeiro focam em nossos deuses, e só depois desenvolvem um verdadeiro interesse em honrar os seus antepassados. Este é provavelmente um vestígio das religiões tradicionais no âmbito do qual foram criados. Para o cidadão comum em nossa cultura ocidental, a religião gira em torno de honrar um deus ou deuses. Para a religião majoritária, o cristianismo, todo o foco da religião está em adorar seu deus. Assim, faz sentido porque novos pagãos primeiro focam em nossos deuses, e não costumam vir a compreender a importância de honrar os seus antepassados, até que tenham passado algum tempo no Paganismo.

Mas os nossos antepassados têm um interesse direto e investido em nós, e como vivemos nossas vidas. Eles compartilham o frith de parentesco com a gente, e honrá-los devidamente e deixá-los orgulhosos é de grande importância. Assim, quando novos pagãos abordam você ou seu kindred em busca de orientação, partilhe com eles a importância de seus ancestrais. Ensine-os a honrar e valorizar seus antepassados, pelo menos tanto quanto honramos e valorizamos nossos Deuses.

Às vezes novos pagãos nos perguntam: "Mas o que acontece com todos os meus antepassados cristãos, como eu deveria honrá-los?" Francamente, não creio que haja qualquer diferença na forma como honramos nossos ancestrais pagãos de nossos ancestrais cristãos. Nós os honramos por conhecê-los, lembrando-nos deles, presenteando-os, levando uma vida que vale a pena, e criando crianças fortes e responsáveis. Todos os antepassados, independentemente da religião que professavam na vida, apreciariam tudo o que fazemos por nossos antepassados.

Maneiras de honrar seus antepassados

- CONHEÇA-OS

Há muitas maneiras de conhecer os antepassados. Uma das melhores maneiras de se começar é conversar com seus parentes vivos, e descobrir tudo o que se sabe sobre seus avós, bisavós, ou de seus parentes distantes como qualquer um de seus parentes vivos que sua linhagem possa remontar. Tome nota. Anote nomes, datas, onde viviam, e suas ocupações. Se eles se lembram de pequenos detalhes de suas vidas, anote-os também. Quais eram os seus interesses e hobbies? Quais foram suas maiores dificuldades e realizações? Quais eram os seus pratos ou guloseimas favoritos? Que histórias são conhecidas ou que tenham sido passadas sobre estes antepassados.

Enquanto seus pais, avós e bisavós ainda estão vivos peça-lhes para contar histórias de suas vidas. Talvez dê algum trabalho convencer alguns parentes mais calados ou tímidos. Mas alguns parentes vivos irão te contar todo tipo de histórias de suas vidas. Pergunte-lhes como se sentiam a respeito ou reagiram a importantes momentos históricos que tiveram lugar durante as suas vidas. Pergunte-lhes sobre os trabalhos que realizaram, as casas em que viviam, as escolas que freqüentaram, as aventuras e desventuras que viveram. Uma vez que esses parentes partirem, suas histórias irão com eles se você não perguntar e ouvir. Faça anotações cuidadosas e as mantenha em um só lugar onde você não irá perdê-las. Os detalhes são fáceis de esquecer ou confundir, portanto, manter notas manterá a informações claras e precisas em sua memória, e darão alguma coisa para refrescar sua memória. Notas também tornam mais fácil preservar e transmitir a informação que recolhemos.

Genealogia também pode ser extremamente interessante e esclarecedora sobre um plano de fundo próprio. Você está com sorte se você já tem um parente que fez uma grande parte da pesquisa genealógica por você. Normalmente, eles ficarão muito felizes em fornecer uma cópia das informações e árvores de família que eles reuniram. Às vezes essa informações serão tão completas, que você não vai precisar fazer muito mais com elas do que lê-las e aprender com elas. Mas, com a genealogia você pode sempre se esforçar para ir mais longe com a pesquisa, e as informações genealógicas existentes dadas a você por um outro parente pode dar-lhe um incrível ponto de partida para novas pesquisas.

Esteja você começando praticamente do zero a pesquisar sua árvore de família ou tenha você recebido avançadas informações de um parente, há uma variedade de fontes on-line de informações genealógicas. Um desses sites é o http://www.ancestry.com/. Você pode fazer algumas muito básicas buscando informações gratuitamente no ancestry.com, mas você vai muito mais longe e mais depressa, se você for adiante e pagar $20 por mês das taxas de registro com o seu site. O ancestry.com tem documentos de censo pesquisáveis que remontam até aos anos 1700. Eles também têm todos os tipos de registros de nascimento, registros de óbito, registros de serviços, os registros de certidão de casamento, registros de imigração, listas de passageiros dos navios, e muito mais. Tudo isso é pesquisável, e com um pouco de prática você pode começar a juntar o seu histórico de família a partir de casa pela internet.

Com a tecnologia de hoje, você também tem a opção de ter seu DNA testado e analisado. Há uma grande variedade de serviços e avaliações baseados nesta tecnologia, mas se você fizer sua pesquisa e tiver algum dinheiro para gastar, você pode aprender muito sobre de onde seus antepassados vieram, a quem são atualmente relacionados no mundo, e muitas outras áreas de informação úteis sobre seus antepassados.

Se você já conseguiu fazer alguns ou todos esses trabalhos para saber mais sobre seus antepassados, então, definitivamente vale a pena juntar todas as informações em um lugar, e colocá-la em um formato que pode ser compartilhada com outros parentes e seus descendentes. Isso pode ser tão simples como tirar fotocópias e grampear o pacote de informações para compartilhar e passar adiante. Algumas famílias reúnem essas informações em formato de livro, e imprimem uma efetiva série de livros para compartilhar e passar adiante. A opção de criação de livros é extremamente fácil usando os atuais serviços de impressão sob demanda disponíveis on-line. A http://www.createspace.com/ e  http://www.lulu.com/ são ambas excelentes opções nesta área. E com a tecnologia de hoje, ainda é possível usar um software de árvore de família para inserir todas as suas informações em uma interface de computador projetados profissionalmente que torna as informações pesquisáveis, facilmente navegável, e quando copiados para um disco...extremamente fácil de compartilhar e passar adiante.

Já me perguntaram antes, "E se eu fui adotado e não sei quem são meus antepassados?" Ou, "eu nunca conheci meu pai, então eu não conheço nenhum dos meus antepassados daquele lado da família?" Nós não podemos ajudá-lo se as circunstâncias tornam impossível para nós saber ou aprender mais sobre nossos antepassados em toda ou em parte de nossa família. Mas, independentemente de você conhecer os seus antepassados ou não, 100% de nós tem antepassados. Mesmo se não os conhece você pode ter certeza que seus antepassados te conhecem. Embora você não saiba nada sobre seus ancestrais, eles ainda são dignos de ser honrados e presenteados.

O ato de conhecer os antepassados e todo o tempo e sacrifício que se pode fazer nesse processo é um grande presente para seus ancestrais. E o conhecimento que você ganha com isso torna a sua ligação com eles e sua capacidade de honrá-los muito mais forte.

Maneiras de honrar seus antepassados
- LEMBRE-SE DELES

Lembrar os antepassados lhes dá o respeito e o reconhecimento que merecem. Isso lhes permite viver neste mundo, sob a forma de memórias, histórias e as lições que a vida pode nos ensinar. Todo mundo quer ser lembrado, e não há razão para acreditar que os nossos antepassados seriam diferentes. Há muitas maneiras de recordar seus antepassados, e as seguintes são apenas algumas delas.

Converse com seus filhos sobre seus antepassados. Conte-lhes as histórias interessantes, engraçadas, e comoventes que você conhece. Mostre-lhes fotografias e filmes caseiros, se os tiver. Compartilhe o que você sabe sobre quem foram, com o que se importavam, e do que eles gostavam. Explique aos seus filhos porque os seus antepassados são importantes e porque é bom honrá-los. Em essência, tornar estas pessoas "reais" para os seus filhos e dar-lhes as ferramentas que necessitam para manter contato com eles e sentir como se tivessem um relacionamento com quem eles eram (são).
 Use a criatividade que tiver, e crie arte que eternize seus antepassados. Se você sabe esculpir em pedra, esculpa uma pedra rúnica em honra de um ancestral específico. Se escreve canções, poesia ou prosa, escreva algo que eternize um ancestral específico, e manifeste quem eles realmente eram e porque são importantes para você. Se eles tiveram um ofício específico em que eram bons ou apreciavam, então pode ser benéfico aprender e praticar o ofício você mesmo. Se eles tiveram um alimento favorito ou prato que gostavam de preparar ou uma receita de família, prepare o alimento ou prato tendo esse ancestral em mente. Se você servir o alimento ou prato em um jantar de família ou encontro mais amplo, conte aos presentes sobre o prato e o ancestral que inspirou você a prepará-lo.

Durante as refeições em ocasiões especiais prepare um prato e reserve um assento vazio para os ancestrais à mesa. No início da refeição, convide os antepassados ou um ancestral específico para jantar com você. Durante a refeição, conte histórias de antepassados e compartilhe o porquê eles foram muito importantes para você.

Durante um symbel, dizer boas e verdadeiras palavras a respeito de seus antepassados ou de um ancestral específico é uma ótima maneira de lembrá-los e compartilhar, com aqueles que se preocupam algo de especial sobre esse ancestral. Ao fazer tal brinde, dizer quem foi o antepassado nomeando-o, e depois compartilhar, de coração, algo significativo a respeito deles. Estas palavras e a honra que lhes reservar farão muito bem a você e todos os participantes se beneficiarão disso.

As fotos são uma forma incrível para lembrar-se das pessoas, e manter uma grande parede de sua casa dedicada a fotos de seus antepassados fará com que se lembre deles diariamente. Se você tiver certos bens ou artefatos que pertenceram aos ancestrais, cuide desses objetos e os mantenha seguros. Encontre  maneiras de preservar e exibir esses itens em sua casa, para mostrar sua importância para você e também para servir como um lembrete de sua relação com esse ancestral.

 Ao tomar medidas para lembrar e comemorar seus ancestrais, é o ato de fazer algo que lhes mostra o seu respeito e admiração. Uma coisa é dizer: "Eu honro os meus antepassados", mas há algo muito mais significativo para ativamente fazer algo que os honre.

Maneiras de honrar seus antepassados
- ALTARES E PRESENTES

Uma forma tradicional de honrar os antepassados é estabelecer um espaço em sua casa especialmente para homenagear e presentear os seus antepassados. Muitos chamam isso de Altar dos Ancestrais, mas o nome ou a forma não é tão importante quanto o que você faz com ele. O altar pode assumir a forma de um conjunto de prateleiras de livros em sua casa dedicada a esta finalidade. Talvez o altar seja uma mesa velha ou mobília que pertenceu a um antepassado que foi particularmente especial para você. Talvez seja simplesmente um peitoril da janela ampla com vista para uma bela vista exterior. Realmente, isso depende de quanto espaço você tem e o que você tem à sua disposição para criar esse espaço sagrado.

Depois de ter um local escolhido e preparado, as coisas ocorrem na área que lembrá-lo de seus antepassados e representam quem eles eram. Isso pode incluir fotografias, objetos que pertenceram a eles e objetos que eles gostariam com base em seus interesses em vida. Estabelecer esse espaço sagrado é um ato que você realizou, que de uma forma concreta mostra a seus ancestrais como eles são importantes para você e que não estão esquecidos. Este espaço sagrado em sua casa também serve como um lembrete constante para você e sua família, de modo que todos os dias ao passarem pelo altar, pensamentos e memórias de seus ancestrais serão trazidos à mente.

Este altar serve também como um lugar para presentear seus antepassados, e esses presentes podem assumir muitas formas. Colocar uma bacia de oferendas sobre o altar com um pouco de sua bebida favorita, comida, doces ou outros objetos ativamente demonstra-lhes a honra que você está dedicando. É um presente que você está dando-lhes em troca dos muitos presentes que eles lhe deram. Presentear é uma maneira poderosa de construir vínculos e amizades entre os vivos, e presentear tem o efeito similar de manter nossa conexão e as relações com os nossos mortos homenageados.

Maneiras de honrar seus antepassados  
– FAÇA COM QUE SE ORGULHEM


Não se fala muito sobre este método particular de honrar os antepassados. Ou pelo menos, não se fala o suficiente. Um dos maiores presentes que você pode dar a seus antepassados é viver uma vida da qual eles se orgulhem. Que melhor maneira de honrar os seus antepassados que levar o tipo de vida responsável, memorável e profícua que iria fazê-los orgulhosos de quem você é e do que você realizou com o seu tempo na Terra? Ao fazer uma escolha na vida, vale a pena considerar “o que a avó Hattie pensaria do que eu vou fazer?” Ao decidir sobre a assistir seis horas de televisão ou realmente realizar alguma coisa, vale a pena considerar se é isso o que o Grande Tio John quer que você faça com sua vida.

Nós todos desejamos o melhor para nossos filhos e descendentes, e faríamos quase qualquer coisa para lhes dar o empurrão de que necessitam para levar uma vida responsável e produtiva. E quando nossos filhos e netos crescem e se tornam adultos fortes e realizados, nós sentimos muito orgulho deles. Não deve ser diferente para os mortos. Ao viver uma vida da qual eles possam se orgulhar, nós mostramos que não estamos desperdiçando ou dando pouca importância ao dom da vida e Orlog  que eles passaram para nós. Muitos de nossos antepassados lutaram e se sacrificaram muito para dar aos seus descendentes uma vida melhor do que eles tinham, e quando reconhecemos isso e levamos nossas vidas com isso em mente, vamos mostrar-lhes de uma forma concreta que nós reconhecemos e somos gratos pelo que eles fizeram por nós.

Maneiras de honrar seus antepassados
  - SEUS FILHOS

Outra forma de honrar os nossos antepassados e de que não se fala o suficiente, envolve as crianças que trazemos a este mundo. Que melhor presente para os nossos antepassados do que criar, com a melhor de nossa capacidade crianças saudáveis e bem ajustadas? Vemos nos rostos dos nossos pais vivos, avós e bisavós o orgulho que sentem pelas crianças que são descendentes deles. E não deve ser diferente para os mortos. Que orgulho eles devem sentir de ver aqueles que são descendentes deles, a crescer e a prosperar no mundo.

Mesmo uma árvore com raízes profundas, mas sem membros acabará por morrer. Continuar nossas famílias, e fortalecer e melhorar a vida daqueles que virão depois de nós... traz grande alegria e honra aos nossos antepassados.

É um processo...

Não é razoável esperar que um pagão novo atinja o fundamento instantaneamente, e consiga fazer tudo o que foi dito neste ensaio em um dia. Assim como formar e manter relações com os vivos é um processo e leva tempo, assim é construir e manter nossas relações com nossos antepassados. Então, se você ler este ensaio e descobrir que você não está fazendo nada que esteja listado aqui, ou muito pouco disso, escolha uma ou duas coisas e trabalhe para fazê-las acontecer. Quando essas tiverem um lugar em sua vida e funcionando bem, escolha mais algumas coisas para acrescentar e trazer para a sua prática pagã. Com o tempo, você vai estabelecer uma conexão e uma ligação com seus antepassados que irá atendê-lo, sua família e seu kindred também.

Mark Ludwig Stinson
Kindred Jotun’s Bane
Temple of Our Heathen Gods

 http://www.heathengods.com/

Translated to Portuguese by Sharon Lee Loreilhe

domingo, 14 de agosto de 2011

Skadi



SKADI

Retirado do livro de John Lindow:  Norse Mythology – A Guide to the Gods, Heroes, Rituals and Beliefs.
Tradução livre para o português por Geirrídr Odinsdottir.

Esposa de Njörd, filha de Thjazi e uma giganta por nascimento, mas que ainda é considerada como um membro dos Aesir.

Skadi é mencionada como filha do gigante Thjazi em várias fontes, incluindo o Grimnismal, estrofe 11, e Hyndluljod, estrofe 31 (parte do “Pequeno Voluspa”). Em cada uma dessas estrofes Thjazi é especificamente identificado com um gigante. No Grimnismal é dito que Skadi habitava o Thrymheim, na velha casa de seu pai. As circunstâncias do casamento de Skadi com Njord, um dos principais Vanir, é contado por Snorri. No Skaldskaparmal ele conta como o casamento aconteceu em primeiro lugar. Após raptar Idunn, Thjazi é morto pelos Aesir durante a sua recuperação. Aparentemente ele não tem nenhum parente do sexo masculino para procurar pela indenização, por isso Skadi age nesse papel.

E Skadi, a filha do gigante Thjazi, pegou o capacete e a armadura e todas as armas de guerra e foi para Asgard para vingar a morte de seu pai, mas os Aesir ofereceram a ela resolução e compensação, e a primeira [parte] foi que ela deveria escolher um marido para ela e escolher olhando para as partes inferiores das pernas e não ver mais que isso. Então ela viu pernas extremamente atraentes de um homem e disse, “Eu escolho este, pois as pernas de Baldr não podem ser um pouco feias”. Mas este era Njord de Noatun.  Ela também havia pedido para que os Aesir a fizessem rir. Então, Loki amarrou uma corda no rabo de uma cabra e a outra extremidade em torno dos seus testículos, e eles então foram puxados e cada um gritou bem alto, então Loki caiu no colo de Skadi; e ela riu. E assim as condições do acordo com ela foram cumpridas pelos Aesir.

Frey também é casado com uma giganta, Gerd, e embora outros deuses fossem pais de crianças com gigantas, esses são os dois únicos casamentos de deuses com gigantas. Afigura-se assim, como Margaret Clunies Ross mostrou, que por causa de seu menor nível hierárquico, os Vanir não podem escolher esposas entre os Aesir e assim deve-se casar com gigantas. Mas a situação é um pouco estranha com Njord, uma vez que não foi ele quem escolheu, mas foi o escolhido. Parecem que os deuses enganaram Skadi de alguma forma, mas nosso entendimento de concurso de beleza pelas pernas é imperfeito. Baldr é um deus jovem e bonito; Njord é neste ponto um homem velho pela mitologia presente. (Uma nota sobre “pernas”: A palavra usada refere-se ambos para pés e canelas; pé, tornozelo, panturrilha e correndo até o joelho, já que a palavra em questão, fotr, é aparentada com a nossa palavra pé (inglês: foot), que é a tradução que freqüentemente se vê).

A brincadeira de Loki com a cabra desempenha claramente o tema da castração, e fazer a deusa rir pode ter algumas associações com ritual. Entretanto, Loki e Skadi têm um relacionamento especial nesse caso. Snorri na Gylfaginning e na Prosa Lokasenna concorda que quando Loki foi preso, foi Skadi quem colocou uma serpente venenosa acima de seu rosto, cujo veneno Sigyn capturava num pote. Quando Sigyn se retirava para esvaziar o pote, o veneno pingava sobre ele e causava suas contorções tectônicas. E na Lokasenna, estrofes 49-52, Loki e Skadi se envolvem numa troca raivosa, onde ele diz que não somente ele a seduziu (ele diz isso sobre todas as deusas), mas também que foi ele quem liderou quando seu pai foi morto.

O casamento entre Skadi e Njord fracassou. Na Gulfaginning Snorri diz que Skadi desejava viver na casa de seu pai nas montanhas, enquanto Njord desejava viver no mar. Eles se comprometeram ficarem nove dias em cada lugar, mas o acordo não funcionou. Snorri cita dois versos, onde é dito por cada um sobre as desvantagens da casa do outro, e estes estão, presumivelmente, perdidos no poema éddico. Ele termina a discussão dizendo-nos um pouco mais sobre Skadi: E então Skadi foi para as montanhas e vive em Thrymheim, e ela vai longe sobre o esqui com um arco e flecha e caça. Ela é chamada Deusa da Neve ou Dis da Neve.

O conceito de Skadi como Dis da Neve é desconhecido nas fontes narrativas, mas não é raro que ela tem esse cognome nas Poesias Skaldicas. Na Lokasenna, estrofe 51, ela se refere aos seus lugares de culto, e há nomes de lugares que verificam a adoração de Skadi, especialmente na Suécia. Visto que Ull é também chamado de Deus da Neve e parece ter sido popular na Suécia, alguns estudiosos têm visto uma conexão especial entre os dois. Mas há uma conexão Norueguesa de acordo com a Ynglinga Saga, no qual é dito que depois de seu casamento com Njord, Skadi teve vários filhos com Odin, os antepassados dos Jarls Hladir. Não se sabe se ela é mãe de Freyr e Freyja. Na Prosa Skirnismal , quando Frey está doente, Njord pede para Skadi falar com ele, de acordo com esta tradição, então ela fala na primeira estrofe do poema, pedindo para Skirnir intervir. Snorri, também, apenas seguindo a descrição do casamento fracassado de Njord e Skadi, diz que Njord gerou Frey e Freyja “depois”.  Mas na Ynglinga Saga, Frey está entre os reféns trocados no final da guerra entre os Aesir e Vanir, e lá implica fortemente que Frey e Freyja são os descendentes de um casamento entre Njord e sua irmã.

Veja também: Guerra Asir-Vanir, Loki; Thjazi, Vanir
Referências e leituras adicionais: As circunstâncias que levaram ao casamento de Skadi e Njord são discutidas por Margaret Clunies Ross, “Why Skaƒi Laughed: Comic Seriousness in an Old Norse Mythic Narrative,” Maal og minne, 1989: 1–14, e John Lindow, “Loki and Skaƒi,” na Snorrastefna: 25.–27. juli 1990, ed. Ulfar Bragason, Rit Stofnunar Sigurƒar Nordals, 1 (Reykjavik: Stofnun Sigurƒar Nordals, 1992), 130–142. Hjalmar Lindroth, “En nordisk gudagestalt i ny belysning genom ortnamn,” Antikvarisk tidskrift for Sverige 20 (1915), and Franz Rolf Schroder, Untersuchungen zur germanischen und vergleichenden Religionsgeschichte, vol. 2: Skadi und die Gotter Skandinaviens (Tubingen: C. B. Mohr, 1941), são os mais importantes que tratam do possível pano de fundo para culto.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Nove Nobres Virtudes - Colocadas em Prática - Parte II

Decidindo-se

“Se o seu espírito está distorcido, ele deve simplesmente endireitá-lo – purificá-lo, torná-lo perfeito -, pois não há nenhum outro trabalho, em todas as nossas vidas, que valha mais a pena. Não endireitar o espírito é procurar a morte, e isso é o mesmo que não procurar nada, pois a morte nos apanhará de qualquer maneira. Buscar a perfeição do espírito de guerreiro é a única tarefa digna de nosso tempo limitado e de nossa virilidade”.

Como eu já havia dito no artigo anterior relacionado à prática das Nove Nobres Virtudes, não estamos vivendo de acordo com tais virtudes por uma questão de condicionamento, ou de cultura, ou de simplesmente sequer conhecermos os nossos próprios valores ou porque definitivamente não sabemos o que queremos para nós. Vejo que as Nove Nobres Virtudes é apenas uma questão de valores nos quais iremos sustentar nossas ações, se isso for exatamente o que queremos. Mas nós realmente sabemos o que queremos? Por isso antes de simplesmente dizermos de que temos tais virtudes é importante nos decidirmos por ter tais virtudes.

E qual é a importância da Decisão?

Eu estive conversando a respeito as Nove Nobres Virtudes com minha irmã no Troth e refleti muito sobre muitas coisas as quais ela me esclareceu a respeito dentro de seu próprio ponto de vista, que pela afinidade, não é muito diferente do meu. E ao ler tudo o que ela colocou (muitas coisas eu retornarei a citar quando pegar cada virtude para falar separadamente) eu vi que existe uma coisa ainda mais importante do que simplesmente refletir sobre as Virtudes, que é DECIDIR-SE por elas. Em Castañeda eu encontrei:

"O grande poder do ser humano está em sua capacidade de tomar decisões. Cada decisão que tomamos nos permite modificar o futuro e o passado. Escolher, porém, significa comprometer-se. Quando alguém faz uma escolha, deve lembrar-se que o caminho a ser percorrido vai ser muito diferente do caminho imaginado.”

Nossas decisões abrem caminhos, é sabido que todo o universo se molda de acordo com nossas decisões. Quando há muito tempo eu quis estudar a respeito do Odinismo e Asatru quase não havia nada a respeito do assunto traduzido para o português, porém eu estava certa de que eu queria muito estudar e saber a respeito. Com o tempo as coisas foram surgindo, conheci pessoas, encontrei textos, fui fazendo algumas traduções, encontrando outras, pessoas foram me falando a respeito das práticas, das Runas, o universo foi aos poucos trazendo situações, momentos e materiais que me permitiram fazer o que eu queria.

Quando estamos diante de tomar uma decisão, em qualquer situação da nossa vida, nós ficamos com muito medo, temos medo do que podemos ter que deixar pra trás, temos medo de que isso pode não ser exatamente o que queremos, temos medo dos caminhos que vão se abrir para nós diante dessa decisão, ficamos inseguros, ficamos inquietos. Mas isso não tem a ver necessariamente com qualquer outra coisa que não seja, na verdade, uma questão de não querermos nos responsabilizar por nossas escolhas e decisões. Nós gostamos de transferir a nossa “culpa” para as outras coisas, para as situações, para as pessoas, para os deuses...

O medo de se responsabilizar está intimamente inserido na nossa cultura. Estamos ainda muito ligados ao sentimento de culpa e quando não nos responsabilizamos por aquilo que fazemos ou que deixamos de fazer podemos inserir a “culpa” em qualquer coisa. É muito comum ouvirmos coisas como “sou assim porque meus pais me educaram dessa forma”, “sou assado porque a sociedade me impele a fazer assim”, “fiz isso porque fulano fez aquilo”, etc. A verdade é que não sabemos o que queremos e temos medo de decidir o que queremos pra nós. Então passamos nossos dias desperdiçando tempo e energia com coisas que nem sabemos se realmente queremos porque não temos coragem por decidir, porque não temos coragem de olhar para dentro de nós mesmos para sabermos a verdade sobre nós mesmos, porque não queremos nos responsabilizar por nós mesmos, nossos atos e nossas condutas e nos dar os devidos méritos por termos ou fracassado ou por termos obtido o sucesso. Não fazemos escolhas porque ainda estamos muito apegados aos conceitos de bom ou ruim, amamos e desejamos o que é “bom” e tentamos evitar ao máximo o que é “ruim”. Citando Castañeda novamente para reflexão:

“Em um mundo em que a morte é o caçador, não há tempo para remorsos ou dúvidas. Só há tempo para decisões. Não importa quais decisões. Nada pode ser mais ou menos sério do que qualquer outra coisa. Em um mundo em que a morte é o caçador, não há decisões pequenas ou grandes. Só há decisões que um guerreiro toma em face de sua morte inevitável.”

A verdade é que cedo ou tarde todos nós iremos morrer e não existe em qualquer ponto um destino pré-determinado, não existe um “plano de Deus para a sua vida”, o mundo todo é um mistério, nós não sabemos o que o mundo é, nós não sabemos o que exatamente os deuses são, nós nem sabemos o que somos. Nós, o mundo, os deuses, a vida são um mistério, não importa na verdade o que pensamos sobre isso, nós podemos na verdade pensar qualquer coisa sobre isso.

A nossa vida é o que fazemos dela e não somente o que pensamos dela. Vejo tudo como um caminho e um caminho é aberto na medida em que nos decidimos por aquela direção. E isso requer uma escolha. Podemos escolher, no caso das Nove Virtudes, vivermos de acordo com tais virtudes, não porque Odin está te forçando a fazer isso, a responsabilidade é tua, Odin ou qualquer outro deus não está te forçando a fazer nada, não existe essa idéia no paganismo de que ou você faz isso ou você vai queimar no fogo do inferno, você é responsável por aquilo que você faz. Isso é Jera, você colhe exatamente o que planta e colher o que planta é Wyrd, cada ação nossa vai moldando o nosso Wyrd. Você é responsável por suas escolhas, você é responsável pela sua vida. Nosso Wyrd imutável reside nas condições em que nascemos, eu não posso trocar de pais a essa altura da minha vida, não posso mudar a minha hereditariedade genética, eu nasci no Brasil, eu fui criada de acordo com a cultura do meu país, de acordo com a religião dos meus pais, de acordo com os ensinamentos tradicionais e dos condicionamentos da minha família, isso é passado e imutável. Mas, daqui em diante sou eu quem determina. Como exemplo, eu herdei meu nariz grande digno de um europeu, isso é hereditariedade, mas isso não determina totalmente o meu “Wyrd nasal”, eu poderia muito bem me decidir por fazer uma plástica no meu nariz e diminuir o seu tamanho, dentro das condições em que isso é possível.

Gastamos muito tempo nos lamentando por não termos tido as condições necessárias anteriormente, gastamos muito tempo com medo de mudar, pois por mais insatisfeitos que estejamos pode ser que não fique exatamente como queremos e se formos um pouco mais a fundo talvez sequer saibamos o que queremos. Então, ficamos nesse chove não molha, deixando a vida seguir sem sequer decidirmos o que queremos fazer com ela. Gosto da maneira como Castañeda pensa, pois ele enfatiza o tempo inteiro que nossos atos têm poder.

“Os atos têm poder. Especialmente quando a pessoa que age sabe que aqueles atos são sua última batalha. Há uma estranha felicidade em agir com o pleno conhecimento de que o que quer que ela esteja fazendo pode muito bem ser o seu último ato sobre a terra.”

Esse pode ser o ultimo artigo que eu estou escrevendo na minha vida. Eu adoro escrever, mas pode ser que minha morte me toque e não farei mais isso. Com esse pensamento, esse deveria ser um grande artigo, pois ele pode ser o último. Assim são as nossas escolhas, nossas ações, nossas decisões. Temos uma tendência a ficar procrastinando tudo. Achamos que não é nosso tempo de morrer, mas a verdade é que não sabemos quando exatamente é o nosso tempo de morrer. Todos nós sabemos que vamos morrer, mas mesmo assim pensamos que somos imortais, que temos tempo para ficar adiando tudo em nossa vida, que temos tempo para ficar gastando com coisas inúteis, que podemos decidir amanhã, fazer amanhã, mas não sabemos se teremos amanhã, nós só temos o agora. E o que estamos fazendo com a nossa vida agora?

“Você, ao contrário, acha que é imortal e as decisões de um homem imortal podem ser anuladas ou motivo de arrependimento ou de dúvida. Num mundo em que a morte é o caçador, meu amigo, não há tempo para remorsos nem duvidas. Só há tempo para decisões”. –Carlos Castañeda.

Então se praticarmos as Nove Nobres Virtudes é um caminho que podemos porventura escolher para nós, porque é isso que nós decidimos fazer, então temos de agir, temos de incorporá-las, temos de fazer valer esses valores, não porque o Troth nos obriga a isso, mas porque assim nós decidimos fazer. Dentro desse caminho esses valores fazem parte da nossa filosofia de vida. Se vamos nos caracterizar de acordo com as bases do Troth, então é isso que vamos assumir, é uma responsabilidade nossa e ninguém tem nada a ver com isso. Nós somos uns idiotas por acreditar que tais valores deixam nossas vidas melhores, que seja! É uma decisão nossa, vasculhamos em nosso interior, decidimos isso para nós e isso é o que importa. Não sabemos como o caminho se mostrará, mas sabemos que qualquer coisa que vier nesse caminho foi uma escolha nossa e isso é mais importante que ficar feito bonecos arrastados de um lado para o outro gastando o pouco tempo que temos de vida pensando no “e se...”. “E se eu fizesse isso”, “e se eu fizesse aquilo”, “e se eu tivesse escolhido outra coisa”... E no final não fazermos nada.

É sempre uma escolha. É definitivamente necessário ser um guerreiro e agir.

“Quando um homem resolve fazer alguma coisa, tem de ir até o fim — afirmou. — Mas ele tem de assumir a responsabilidade daquilo que faz. Não importa o que fizer; primeiro, ele tem de saber por que o faz, e depois tem de prosseguir com seus atos sem ter dúvidas ou remorsos a respeito.”

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