Páginas

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Nove Nobres Virtudes - Colocadas em Prática - Parte II

Decidindo-se

“Se o seu espírito está distorcido, ele deve simplesmente endireitá-lo – purificá-lo, torná-lo perfeito -, pois não há nenhum outro trabalho, em todas as nossas vidas, que valha mais a pena. Não endireitar o espírito é procurar a morte, e isso é o mesmo que não procurar nada, pois a morte nos apanhará de qualquer maneira. Buscar a perfeição do espírito de guerreiro é a única tarefa digna de nosso tempo limitado e de nossa virilidade”.

Como eu já havia dito no artigo anterior relacionado à prática das Nove Nobres Virtudes, não estamos vivendo de acordo com tais virtudes por uma questão de condicionamento, ou de cultura, ou de simplesmente sequer conhecermos os nossos próprios valores ou porque definitivamente não sabemos o que queremos para nós. Vejo que as Nove Nobres Virtudes é apenas uma questão de valores nos quais iremos sustentar nossas ações, se isso for exatamente o que queremos. Mas nós realmente sabemos o que queremos? Por isso antes de simplesmente dizermos de que temos tais virtudes é importante nos decidirmos por ter tais virtudes.

E qual é a importância da Decisão?

Eu estive conversando a respeito as Nove Nobres Virtudes com minha irmã no Troth e refleti muito sobre muitas coisas as quais ela me esclareceu a respeito dentro de seu próprio ponto de vista, que pela afinidade, não é muito diferente do meu. E ao ler tudo o que ela colocou (muitas coisas eu retornarei a citar quando pegar cada virtude para falar separadamente) eu vi que existe uma coisa ainda mais importante do que simplesmente refletir sobre as Virtudes, que é DECIDIR-SE por elas. Em Castañeda eu encontrei:

"O grande poder do ser humano está em sua capacidade de tomar decisões. Cada decisão que tomamos nos permite modificar o futuro e o passado. Escolher, porém, significa comprometer-se. Quando alguém faz uma escolha, deve lembrar-se que o caminho a ser percorrido vai ser muito diferente do caminho imaginado.”

Nossas decisões abrem caminhos, é sabido que todo o universo se molda de acordo com nossas decisões. Quando há muito tempo eu quis estudar a respeito do Odinismo e Asatru quase não havia nada a respeito do assunto traduzido para o português, porém eu estava certa de que eu queria muito estudar e saber a respeito. Com o tempo as coisas foram surgindo, conheci pessoas, encontrei textos, fui fazendo algumas traduções, encontrando outras, pessoas foram me falando a respeito das práticas, das Runas, o universo foi aos poucos trazendo situações, momentos e materiais que me permitiram fazer o que eu queria.

Quando estamos diante de tomar uma decisão, em qualquer situação da nossa vida, nós ficamos com muito medo, temos medo do que podemos ter que deixar pra trás, temos medo de que isso pode não ser exatamente o que queremos, temos medo dos caminhos que vão se abrir para nós diante dessa decisão, ficamos inseguros, ficamos inquietos. Mas isso não tem a ver necessariamente com qualquer outra coisa que não seja, na verdade, uma questão de não querermos nos responsabilizar por nossas escolhas e decisões. Nós gostamos de transferir a nossa “culpa” para as outras coisas, para as situações, para as pessoas, para os deuses...

O medo de se responsabilizar está intimamente inserido na nossa cultura. Estamos ainda muito ligados ao sentimento de culpa e quando não nos responsabilizamos por aquilo que fazemos ou que deixamos de fazer podemos inserir a “culpa” em qualquer coisa. É muito comum ouvirmos coisas como “sou assim porque meus pais me educaram dessa forma”, “sou assado porque a sociedade me impele a fazer assim”, “fiz isso porque fulano fez aquilo”, etc. A verdade é que não sabemos o que queremos e temos medo de decidir o que queremos pra nós. Então passamos nossos dias desperdiçando tempo e energia com coisas que nem sabemos se realmente queremos porque não temos coragem por decidir, porque não temos coragem de olhar para dentro de nós mesmos para sabermos a verdade sobre nós mesmos, porque não queremos nos responsabilizar por nós mesmos, nossos atos e nossas condutas e nos dar os devidos méritos por termos ou fracassado ou por termos obtido o sucesso. Não fazemos escolhas porque ainda estamos muito apegados aos conceitos de bom ou ruim, amamos e desejamos o que é “bom” e tentamos evitar ao máximo o que é “ruim”. Citando Castañeda novamente para reflexão:

“Em um mundo em que a morte é o caçador, não há tempo para remorsos ou dúvidas. Só há tempo para decisões. Não importa quais decisões. Nada pode ser mais ou menos sério do que qualquer outra coisa. Em um mundo em que a morte é o caçador, não há decisões pequenas ou grandes. Só há decisões que um guerreiro toma em face de sua morte inevitável.”

A verdade é que cedo ou tarde todos nós iremos morrer e não existe em qualquer ponto um destino pré-determinado, não existe um “plano de Deus para a sua vida”, o mundo todo é um mistério, nós não sabemos o que o mundo é, nós não sabemos o que exatamente os deuses são, nós nem sabemos o que somos. Nós, o mundo, os deuses, a vida são um mistério, não importa na verdade o que pensamos sobre isso, nós podemos na verdade pensar qualquer coisa sobre isso.

A nossa vida é o que fazemos dela e não somente o que pensamos dela. Vejo tudo como um caminho e um caminho é aberto na medida em que nos decidimos por aquela direção. E isso requer uma escolha. Podemos escolher, no caso das Nove Virtudes, vivermos de acordo com tais virtudes, não porque Odin está te forçando a fazer isso, a responsabilidade é tua, Odin ou qualquer outro deus não está te forçando a fazer nada, não existe essa idéia no paganismo de que ou você faz isso ou você vai queimar no fogo do inferno, você é responsável por aquilo que você faz. Isso é Jera, você colhe exatamente o que planta e colher o que planta é Wyrd, cada ação nossa vai moldando o nosso Wyrd. Você é responsável por suas escolhas, você é responsável pela sua vida. Nosso Wyrd imutável reside nas condições em que nascemos, eu não posso trocar de pais a essa altura da minha vida, não posso mudar a minha hereditariedade genética, eu nasci no Brasil, eu fui criada de acordo com a cultura do meu país, de acordo com a religião dos meus pais, de acordo com os ensinamentos tradicionais e dos condicionamentos da minha família, isso é passado e imutável. Mas, daqui em diante sou eu quem determina. Como exemplo, eu herdei meu nariz grande digno de um europeu, isso é hereditariedade, mas isso não determina totalmente o meu “Wyrd nasal”, eu poderia muito bem me decidir por fazer uma plástica no meu nariz e diminuir o seu tamanho, dentro das condições em que isso é possível.

Gastamos muito tempo nos lamentando por não termos tido as condições necessárias anteriormente, gastamos muito tempo com medo de mudar, pois por mais insatisfeitos que estejamos pode ser que não fique exatamente como queremos e se formos um pouco mais a fundo talvez sequer saibamos o que queremos. Então, ficamos nesse chove não molha, deixando a vida seguir sem sequer decidirmos o que queremos fazer com ela. Gosto da maneira como Castañeda pensa, pois ele enfatiza o tempo inteiro que nossos atos têm poder.

“Os atos têm poder. Especialmente quando a pessoa que age sabe que aqueles atos são sua última batalha. Há uma estranha felicidade em agir com o pleno conhecimento de que o que quer que ela esteja fazendo pode muito bem ser o seu último ato sobre a terra.”

Esse pode ser o ultimo artigo que eu estou escrevendo na minha vida. Eu adoro escrever, mas pode ser que minha morte me toque e não farei mais isso. Com esse pensamento, esse deveria ser um grande artigo, pois ele pode ser o último. Assim são as nossas escolhas, nossas ações, nossas decisões. Temos uma tendência a ficar procrastinando tudo. Achamos que não é nosso tempo de morrer, mas a verdade é que não sabemos quando exatamente é o nosso tempo de morrer. Todos nós sabemos que vamos morrer, mas mesmo assim pensamos que somos imortais, que temos tempo para ficar adiando tudo em nossa vida, que temos tempo para ficar gastando com coisas inúteis, que podemos decidir amanhã, fazer amanhã, mas não sabemos se teremos amanhã, nós só temos o agora. E o que estamos fazendo com a nossa vida agora?

“Você, ao contrário, acha que é imortal e as decisões de um homem imortal podem ser anuladas ou motivo de arrependimento ou de dúvida. Num mundo em que a morte é o caçador, meu amigo, não há tempo para remorsos nem duvidas. Só há tempo para decisões”. –Carlos Castañeda.

Então se praticarmos as Nove Nobres Virtudes é um caminho que podemos porventura escolher para nós, porque é isso que nós decidimos fazer, então temos de agir, temos de incorporá-las, temos de fazer valer esses valores, não porque o Troth nos obriga a isso, mas porque assim nós decidimos fazer. Dentro desse caminho esses valores fazem parte da nossa filosofia de vida. Se vamos nos caracterizar de acordo com as bases do Troth, então é isso que vamos assumir, é uma responsabilidade nossa e ninguém tem nada a ver com isso. Nós somos uns idiotas por acreditar que tais valores deixam nossas vidas melhores, que seja! É uma decisão nossa, vasculhamos em nosso interior, decidimos isso para nós e isso é o que importa. Não sabemos como o caminho se mostrará, mas sabemos que qualquer coisa que vier nesse caminho foi uma escolha nossa e isso é mais importante que ficar feito bonecos arrastados de um lado para o outro gastando o pouco tempo que temos de vida pensando no “e se...”. “E se eu fizesse isso”, “e se eu fizesse aquilo”, “e se eu tivesse escolhido outra coisa”... E no final não fazermos nada.

É sempre uma escolha. É definitivamente necessário ser um guerreiro e agir.

“Quando um homem resolve fazer alguma coisa, tem de ir até o fim — afirmou. — Mas ele tem de assumir a responsabilidade daquilo que faz. Não importa o que fizer; primeiro, ele tem de saber por que o faz, e depois tem de prosseguir com seus atos sem ter dúvidas ou remorsos a respeito.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...