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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Frith Dentro das Tribos Mordernas


Frith dentro das Tribos Modernas – A Alegria que ele traz.

Texto original de Mark Ludwig Stinson
Adaptação livre para o português por Geirrídr Odinsdottyr.

No Culture Of The Teutons de Vilhelm Grönbech, o primeiro capítulo é sobre Frith. Frith entre os Kinsmen.
Grönbech vai longe para explicar que Frith para os nossos ancestrais não é meramente “Amor”. Ele não é meramente “Paz”. Ele não é meramente “Cooperação”. O conceito de Frith é muito difícil de entender completamente para nós que vivemos nesta cultura moderna, longe de apresentar isso como um traço ou valor. E ainda, o conceito de Frith é o cerne da visão de mundo germânica.

No link a seguir você pode ler o Culture of the Teutons, ou pode comprar uma cópia impressa caso se adapte melhor aos seus hábitos de leitura, mas eu vou tentar discutir o Frith nesse ensaio, tal como ele existia entre os nossos antepassados, e, em seguida discutir o papel que ele desempenha em nossas tribos modernas.


O Frith foi uma profunda necessidade estabelecida para, em todas as coisas e todas as ações, ser considerado o “bem-estar e a honra de toda a família”. A família era então fortemente ligada como um grupo onde nenhum deles poderia sofrer sem que todo o grupo sofresse junto. O que uma pessoa fazia dentro do grupo era visto pelos outros como uma ação cometida pelo grupo todo. Um grande crime cometido por um membro colocaria em risco cada membro da família de pagar por esse crime seja por Shyld[i] ou como um assunto de vingança. Uma grande vitória ou feito realizado por um membro do grupo, era visto como uma vitória ou feito do grupo todo.

Essas ligações dentro das famílias era o estado natural das coisas. Não havia nada que poderia tentá-los de deixar de considerar a família como um todo. E um homem sem Kin (família) não tinha nenhum valor. Um homem que agia fora do Frith, era expulso e visto como menos que nada. Como parte de uma família, era totalmente esperado que ele atuasse em Frith para os outros membros, e por sua vez, esperava receber Frith em troca. Quando alguém tinha que confrontar uma situação difícil onde ele estava ligado pelo Frith, não havia sequer uma discussão ou a possibilidade de não demonstrar Frith. Não mostrar o Frith era quebrar os laços que fazem você um ser humano. Não havia discussão interna sobre o assunto, você simplesmente fazia o que tinha que fazer porque essa era a sua família, e isso é o que as famílias fazem.

Se um membro da família entrasse pela porta à noite e informasse a você que ele tinha matado um homem de outra família, você saberia imediatamente que num senso comum sua família inteira tinha matado aquele homem e que a vingança poderia se solicitada por toda a família do homem. Não havia dúvida de que você defenderia seu parente que tinha cometido o assassinato e o resto da sua família seria enviada, ou a fim de reuni-los para defesa ou a fim de fazer uma oferta de pagamento pelo ato.

Esses laços eram tão rígidos, que freqüentemente a vingança contra uma morte não seria procurada contra o próprio assassino, mas sim contra um homem da família do assassino que tivesse estreitamente alinhado a importância do homem morto. Se um homem importante de uma família tivesse sido assassinado por um homem humilde de outra família, era um insulto à memória do morto buscar se vingar do assassino humilde. Em vez disso um homem importante da família do assassino seria morto e assim restauraria a honra da família da primeira vítima. E essa prática era completamente entendida e justificada pelos laços firmes que existiam dentro das famílias e o conceito de Frith. O que um homem fazia, era considerado que toda a sua família também tivesse feito.

Se alguém que matou o primo do Godhi do local ou de um lawspeaker[ii], e então fosse ao mesmo lawspeaker para definir o Shyld e para que o assunto fosse resolvido, já sabia que deixar que o homem decidisse a questão não seria “justo” pelos padrões de hoje. Ninguém iria esperar que ele decidisse o assunto de uma forma equilibrada. Entendia-se que o morto era primo do lawspeaker e que por uma questão de Frith, o preço por essa morte seria muito maior do que normalmente poderia ser definido. Ninguém iria esperar que o lawspeaker fizesse qualquer outra coisa senão decidir o assunto com uma pesada inclinação para a sua família e sua perda. Ele entenderia que era errado matar o seu primo e que o preço deveria ser pago.

Se o corpo de um parente fosse levado para a casa, não importava o que havia o levado a morte. Eles não consideravam se tivesse sido morto por brigas pessoais ou por ações de sua parte. Lá estava um parente, morto por outro e o Frith e a Honra demandavam que o preço fosse pago.
O Frith entre os parentes existia no próprio ser. Não agir de acordo com o Frith a um parente era como se tivesse tirado algo de você que o tornasse humano. Aquele que quebrava esse laço era deixado sozinho no mundo e deixado de ser humano num senso comum.

Frith significa lealdade recíproca. Uma completa e falta de vontade de tomar uma medida contra seu parente. Um desacordo entre parentes pode se tornar numa discussão alta, raivosa e forte, mas o resultado final é sempre o mesmo. No final, os dois irmãos devem trabalhar no sentido de trazer uma resposta para manter a unidade de propósito entre eles. Interesses concorrentes e conflitantes podem surgir entre os irmãos, mas no final, um bom irmão é obrigado a se reunir com os seus parentes e chegar numa conclusão para resolver o assunto. A briga entre os irmãos não leva a morte como um resultado potencial, porque o Frith exige que um irmão não aja violentamente contra outro irmão.

Há até mesmo histórias no Lore, de dois homens que se encontraram em batalha e um sugeriu um nascimento ilegítimo e que eles poderiam ser irmãos. Um dos homens imediatamente se retirou com a idéia de que eles poderiam ser parentes, porque não poderia mesmo considerar a possibilidade de matar um de seus familiares.

Mas o Frith vai além de não machucar um parente, ou buscar vingança pela morte de um. Frith significa que você sempre terá um irmão ao seu lado. O lado dele é o seu lado. O seu lado é o lado da sua família toda. Mesmo no caso de você não gostar das ações e escolhas dos seus parentes, você pode expressar em particular o seu desejo para que eles ajam diferente, mas depois você se volta de qualquer maneira. Essa não é uma questão de dizer “Bem, você fez a sua cama” e ficar olhando de maneira neutra. Essa é sua família e você assumirá seu lado em cada questão.

“Todos devem dar lugar ao Frith, todas as obrigações, todas as considerações”. Nenhuma pessoa que esteja fora da família pode vir interferir com o Frith entre os kinsmen. Nenhum desacordo, nenhuma emoção, nenhum humor, nada pode estar antes do Frith.

O Frith não é passivo. Ele é baseado numa forte identificação e conexão com a família. Agir em Frith não era um fardo. O Frith trazia alegria, segurança e prazer. Só se pode ser feliz quando se vive em Frith com a família.

Para os modernos heathens, o conceito de Frith está no coração de nossas tribos modernas. Em nossa cultura, não existe uma família extensa, e ainda no núcleo familiar nós falhamos com isso. Na nossa cultura os parentes não sabem o que é ser uma família. Nossos parentes são muitas vezes de uma religião Universal que tem trabalhado por séculos para quebrar o Frith com parentes, a fim de manter a lealdade com uma igreja ou Deus.

Então, nós formamos kindreds. E essas famílias escolhidas assumem várias formas. Quando um Kindred é formado de várias famílias se unindo num grupo, eu prefiro chamar esse agrupamento social de “tribo”. Para essas tribos serem bem sucedidas, manter a estabilidade e nos trazer alegria, nós devemos retornar para uma compreensão total de Frith dentro de nossa tribo.

E qualquer um que está envolvido numa tribo heathen estável conhece a alegria que vem do Frith que compartilha com essas pessoas. Você as ama, confia nelas, você os tem não importa para o que, e eles te têm não importa para o que. Você se sente como se estivesse verdadeiramente vivo quando você está com eles e você sente a falta quando está longe deles, embora no seu íntimo você saiba que eles estão lá e sempre estarão lá para você. Para aqueles que têm experimentado o verdadeiro Frith, é fácil de entender porque esse sentimento tinha um lugar tão importante na vida dos nossos antepassados.

Nós devemos fazer nossas decisões e fazer nossas ações considerando o bem-estar de cada um de nossa tribo. O que um membro da tribo faz é considerado como se toda a tribo tivesse feito. Quando surgem desacordos, deve-se desde o início ter a conclusão inevitável que o único resultado possível é que o desacordo seja resolvido de uma forma que beneficie a todos. Os laços com aqueles que estão fora da tribo não podem ficar no lugar do Frith da tribo. Nenhum humor, nenhuma emoção, nenhum auto-interesse, nenhum conflito pode ficar no lugar do Frith.

Será que isso significa que nunca há divergências? Que ninguém nunca fica com raiva? Que você nunca contará para alguém de sua tribo que não gosta do que estão fazendo? Não, não significa nenhuma dessas coisas. Eles ainda terão desentendimentos, raiva e pessoas tentando guiar outra para longe das ações que possam ser prejudiciais para a tribo ou para elas mesmas. Mas o resultado final é sempre o mesmo. Ambas as partes envolvidas sabem desde o começo que o Frith deve prevalecer e os problemas devem ser resolvidos de um modo que beneficie a todos.

Essas são as pessoas que vão “ajudar a esconder o corpo”, como diz o ditado moderno. Essas são as pessoas que estarão ao seu lado não importa para o quê. Precisa de um lugar para ficar, a casa deles é sua. Precisa de um conselho, são eles que não se importam com um telefonema às três horas da manhã. Uma festa, eles estão lá com cerveja, pizza e um caminhão em movimento. E em troca, recebe a alegria de estar lá para eles também.

O conceito de Frith em nossas tribos deixa muito claro o cuidado que a tribo deve ter para a escolha de um novo membro. Conheça-os. Ensine-os. E o processo de inculturação[iii] se torna muito importante quando é entendido o tipo de vínculo que você está criando com um novo membro. Se a tribo permite a entrada de um membro problemático, o Frith será regularmente testado. Se a tribo permite a entrada de um novo membro que não entende o Frith ou não está disposto a se comprometer com o Frith, a segurança, o prazer e a alegria que vem do Frith serão diminuídos ou perdidos.

Na véspera de uma longa viagem com nosso kindred para um encontro pagão aqui na região, Jamie King, uma irmã de kindred me ligou e disse que ela já estava “Altamente Pagã”. Nós rimos e então falamos sobre como nos sentíamos maravilhados por saber que passaríamos todo o final de semana com os membros de nosso kindred. Viajamos juntos, trabalhamos juntos, encontramos com outras tribos juntos. Saber que é parte de um grupo e que você tem completa lealdade e Frith dentro daquele grupo é realmente um sentimento de alegria. É tão diferente do que enfrentamos em nossa cultura moderna, que a alegria é quase esmagadora em sua intensidade. É estranho quando comparado com a política externa, mas é a coisa mais natural no caminho dos nossos antepassados. No caminho do Folk.

O Frith está no coração de uma tribo. Está no coração da visão germânica do mundo. Uma vez que é estabelecido e entendido, o sente como completamente natural. E rapidamente percebemos porque nossa cultura moderna está falhando. Porque a depressão está tomando níveis tão elevados. Porque muitas pessoas estão sendo medicadas. Porque famílias estão falindo. Porque a nossa cultura está falindo. Nossa cultura moderna tem afastado propositalmente o coração do nosso povo. Homens e mulheres modernos são indivíduos em primeiro lugar. Buscando seus próprios interesses e seus próprios prazeres, tendo muito pouco contato com seus parentes ou aqueles que escolheram como parentes.

Nossos antepassados germânicos entendiam que sem Frith um indivíduo estava completamente sozinho no mundo. Sem Frith um homem não era nada. Era menos que nada. E ainda, nossa cultura moderna busca esse estado de ninharia como um objetivo.

Reconstruindo o caminho de nossos antepassados, nós devemos formar kindreds e tribos. Nós devemos estabelecer o Frith dentro desses kindreds e tribos. E então a energia, o trabalho e a Sorte que é criado irão direcionar o Folk adiante.

Mark

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Mark Ludwig Stinson - Chieftain of Jotun's Bane Kindred


[i] Essencialmente Shyld é um pagamento ou o que é devido. É um conceito pagão que quando alguém tinha cometido uma injúria ou feriu outra pessoa (e isso está ligado à honra) que um simples pedido de desculpa não corrigiria o dano causado. É preciso consertar o que se quebra. É preciso devolver o que foi tirado. Deve-se pagar o que foi devido. Shyld pode assumir muitas formas, assim como um presente pode assumir muitas formas. – Pelo próprio Mark Ludwig Stinson.
[ii] O Lawspeaker tem o papel de julgamento e da manutenção da paz na tribo. Antigamente o Lawspeaker era um membro da tribo escolhido tanto por sua imparcialidade e sabedoria, quanto por um conhecimento profundo das leis e precedentes legais de seu povo. – retirado de http://members.iquest.net/~chaviland/lawspeaker.html
[iii] A inculturação é um método de introduzir a cultura, aspectos culturais de um determinado povo à sua. Exemplo: Uma pessoa chega num lugar diferente em que as pessoas têm seus costumes, e essa pessoa acaba adquirindo aspectos culturais que não tinha em sua cultura. Esse tipo de cultura é quase que criado para a pessoa se tornar ou fazer parte de uma cultura à força. Trata-se de um termo típico do linguajar religioso e de recente utilização no discurso missiológico (Missões). Fonte:  http://pt.wikipedia.org/wiki/Incultura%C3%A7%C3%A3o

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